Não é crítica: “Homens Imprudentemente Poéticos”, de V. Hugo Mãe

Estou arrebatado pelo último livro de Valter Hugo Mãe: “Homens Imprudentemente Poéticos”. É como se, de repente, Kawabata, o primeiro autor japonês a receber o Nobel, pudesse escrever em português!

Some-se a isso a inventividade do idioma, herdada de Saramago, incluindo-se o não uso de pontuação para além do ponto final e da vírgula. E se o escritor veterano, um dia, vislumbrou a Península Ibérica despregando-se da Europa, em “A Jangada de Pedra”, agora, Hugo Mãe quase parece ter visto algo inesperado nesta imagem: lusos e espanhóis poderiam não apenas estar se divorciando da Europa, mas também buscando esta diminuta ilha no oceano: o Japão! O espírito luso, de repente, tão nipônico! É como uma saudade do que nunca fomos… 

E, numa obra tão precisamente localizada no globo terrestre, sobra espanto: somos todos, como a ilha nipônica no Pacífico, um pequeno ajuntado de solidão e mistério. Com sonhos de grandeza, porém!