“Agentes invisíveis e modos de produção nos primeiros anos do Workcenter of Jerzy Grotowski”

Amanhã, Daniele Sampaio lança “Agentes invisíveis e modos de produção nos primeiros anos do Workcenter of Jerzy Grotowski”. A proximidade e sobreposições de relações com a autora me deu, neste caso, mais do que o privilégio do convívio; deu-me a chance de ler o volume antes. 

Primeiro: o livro ultrapassa em muito a dissertação de mestrado, defendida na UNICAMP, sob orientação de Tatiana Motta Lima, e que lhe deu fundamento. Se lá as qualidades de pesquisa e da pesquisadora já eram muito evidentes, agora, vemos nascer uma autora. Ou seja,  além das inegáveis qualidades do levantamento de dados e da sua análise, a publicação nos mostra uma narrativa bonita. Aqui, misturam-se dados bibliográficos, entrevistas, materiais inéditos, experiência pessoal e um estilo pessoal no modo de contar.   

Depois, o assunto deve ir além do interesse daqueles que pesquisam este nome fundamental das artes da cena no século XX, Jerzy Grotowski. Deve atrair o olhar de produtores e gestores teatrais e, pensando mais amplamente, dos fazedores da cena. Aí, mora o meu maior orgulho ao ler estas páginas. 

Há satisfação, claro, em ver a realização pessoal de alguém para quem dirijo afeto e parceria profissional. Há mais, porém. Ao pensar a fase de trabalho em que o diretor polonês  não produzia mais espetáculos, bem como os problemas de produção de uma arte “sem objeto”, Sampaio ajuda a recolocar o “fazer” como modo de “pensar” a criação no palco e para além dele. Assim, desdobram-se reflexões sobre a contemporaneidade, políticas culturais, a reação artística a estes contextos, as maneiras de viabilizar este projeto poético. Tudo tão bem articulado que, de repente, somos surpreendidos pela nossa própria experiência criativa: há de se encontrar o modo justo em que a gestão de um empreendimento dialoga - horizontalmente, sem hierarquias - com o que se apresenta no palco e o que dele se revela como discurso.   

O que eu realmente gostaria, como artista e professor, era pedir a quem tem ou teve aulas comigo que não perca tempo e leia o trabalho que a Editora Javali lança, durante e MIT SP. Ali, temos alimento para entender que a cena é antes de tudo ofício, considerando-se nisso toda a complexidade que há no mundo do trabalho: correlações de forças  históricas, sociais, polícias, econômicas. Tudo isto a ser pensado sem nunca se esquecer da tarefa profissional (ou da missão de profecia): ajudar fomentar o imaginário de uma sociedade inteira!